Quando li “A Riqueza e Pobreza das Nações” de David S. Landes impressionou-me a descrição dada pelo autor das difíceis condições de vida dos habitantes das zonas tropicais, designadamente das doenças que os atacavam.
A
Malária será a mais comum, quer em número de casos quer no conhecimento da sua existência, até porque já foi endémica por cá, principalmente nos arrozais dos vales do Sado, Tejo e Mondego tendo sido dada por erradicada de Portugal pela OMS (Organização Mundial de Saúde) em 1973 (
1).
Já a
Oncocercose também chamada “cegueira dos rios” será menos conhecida em Portugal, infectando 18 milhões de pessoas em todo o mundo, localizadas sobretudo na África Tropical e no Brasil. É causada por um tipo de nemátodo (antigamente os nemátodos chamavam-se nematelmintas). Os
nemátodos são cilíndricos e com comprimento não excedendo os 2,5mm. Os que parasitam o homem vão causando diversas perturbações ao hospedeiro que, quando não tratado, pode ficar cego ao fim de alguns anos. Um dos vectores da transmissão é uma mosquinha que no Brasil chamam “borrachudo” (
Simuliidae, ver também
Black fly) provocando feridas com tendência para infectar nos tornozelos das pessoas.
Mostro uma imagem de “
Te Ara, The encyclopedia of New Zealand, Story: Sandflies and mosquitoes”
que me fez lembrar o livro
“Castaway” de Lucy Irvine que referi neste post onde ela falava dos problemas do companheiro com as picadas das “sand flies” de que encontrei também outra imagem
aqui (de uma companhia de seguros).
Nem sempre estas picadas levam a infecções parasitárias graves mas causam sempre terríveis comichões.
Para não ficarem dúvidas sobre a minha preferência por ambientes urbanos onde a natureza é apresentada em jardins bem mantidos refiro ainda os
problemas dos militares americanos estacionados em Hawijah no Iraque e de
turistas nas Caraíbas.
Mas chegando finalmente ao título deste post,
o prémio Nobel da Medicina de 2015 foi atribuído (da esquerda para a direita) a William C. Campbell (irlandês), Satoshi Omura (japonês) e Tu Youyou (chinesa).
Metade do prémio foi para os dois primeiros (verminoses) enquanto a outra metade foi para
Tu Youyou que descobriu a
Artemisinina, importante no combate da Malária e que acabou por se revelar também interessante no combate a alguns vermes que parasitam os seres humanos.
A atribuição pela primeira vez de um prémio Nobel (adenda: da Medicina) a uma pessoa chinesa é um evento com significado. Também a academia sueca passou a considerar a China como um “membro de pleno direito” da sociedade das nações, neste movimento até agora irresistível de globalização e de reocupação do lugar importante que a China viu interrompido no ultimo par de séculos.
A origem do projecto não é muito entusiasmante, tendo alegadamente resultado duma diligência de Chou-en-Lai junto de Mao Tsé Tung para autorizar um projecto de pesquisa, apoiada na medicina tradicional chinesa, para descobrir remédio eficaz para mosquitos que se tinham tornado resistentes à cloroquina, droga que perdera eficácia nos mosquitos que atacavam os guerrilheiros do Vietnam do Norte nomeadamente no trilho de Ho-Chi-Minh, cheio de túneis, por onde se deslocavam para o Vietname do Sul. Não foi portanto uma preocupação associada ao bem estar da população mas mais uma necessidade militar.
De qualquer forma a consulta a textos antigos chineses facilitou a selecção da planta que continha o princípio activo Artemisinina e a consulta mais profunda dos textos ajudou também na selecção do método de extracção de Artemisinina que deveria ser feito com água à temperatura ambiente, no sentido de pouco quente.
Nos textos que li e uma pessoa chinesa com quem falei transmitiram-me a existência de dúvidas sobre a adequação da atribuição do prémio a uma única pessoa, tratou-se dum trabalho envolvendo muita gente. Contudo, a nobelizada terá a oportunidade de dizer isso mesmo na cerimónia em Estocolmo, vamos ver o que acontece.
(1)
Malária: Passado, Presente e (que) Futuro, Alexandra L.A. Esteves (Malária: Passado, Presente e (que) Futuro)