Costumo ver filmes de forma pouco distanciada, enquanto os vejo quase que esqueço que estou a ver uma realidade fabricada, nem sempre fiel à realidade. Mesmo assim, ver filmes sobre outra sociedade pode ser uma forma de a conhecer um pouco melhor. Será provavelmente por isso que me interesso por filmes de culturas relativamente exóticas em relação a Portugal, como é o caso da cultura chinesa.
Com a hegemonia quase absoluta do cinema Americano é também uma forma de aceder a formas diferentes de fazer cinema, mesmo que inevitavelmente influenciadas por Hollywood.
Não sei se foi por ter ido a Macau duas vezes em 1990 e outra vez em 1993, coincidindo com a exibição frequente de filmes do realizador chinês Zhang Yimou, acabei por ver vários fiçmes deste realizador.
Na Wikipédia traz a lista dos filmes deste realizador aqui (com a versão em inglês incluindo pequena nota biográfica) de onde tirei este subconjunto que vi em Portugal:
Como se constata pelos anos de estreia dos filmes já os vi há bastante tempo, o que facilita a descrição tornando-a mais sucinta, dado que quase não consultei informação sobre os filmes.
O primeiro, com o título em português “Esposas e Concubinas”, trata das relações entre as várias esposas de um chinês rico por volta de 1920. É uma casa ricamente decorada mas com vidas infelizes das mulheres que as habitam, à espera que o senhor da casa as escolha para passar a noite. A casa é arquitectonicamente muito virada para dentro, claustrofóbica, os Portugueses parecem apreciar mais as casas com vista desimpedida.
No segundo filme, “Viver”, mostra as vicissitudes por que passa uma família vivendo na China durante o período da Revolução Cultural, tentando sobreviver às desgraças sucessivamente criadas pelo presidente Mao. A desenvoltura com que se tentaram na China caminhos diferentes do habitual, com consequências desastrosas, mostra aos mais distraídos as vantagens de existirem alternativas democráticas ao poder instituído.
No terceiro filme, “A tríade de Xangai”, um filme de gangsters, ficou-me a memória das traições e da enorme violência, coabitando com cenas de uma enorme beleza, mostrando mais uma vez que beleza e bondade são, como diria um matemático, variáveis completamente independents.
Os dois filmes seguintes, “Herói” e “O Segredo dos Punhais Voadores”, tratam de lendas e mitos da China antiga. Mais uma vez a beleza é avassaladora (e meço bem este adjectivo que acabo de verificar nunca ter sido usado até agora neste blogue). Outras memórias que ficam são as multidões de figurantes. Uma das grandezas da China consiste na possibilidade de dispor de multidões de seres humanos que se podem concentrar numa tarefa específica, como tapar o Sol com uma saraivada de flechas.
O ultimo filme que vi de Zhang Yimou, A Maldição da Flor Dourada” é sobre a vida na corte imperial, sobre histórias de traição e de crueldade. A traição da mulher (ou uma das) do imperador é descoberta por este que a obriga a ir bebendo um veneno de acção lenta às refeições. Mais uma vez uma história cruel em cenários claustrofóbicos de grande beleza, se bem que o cenário que mostro seja talvez excessivamente decorado. Reparem na ausência de vista para o exterior:
A personagem principal é a actriz Gong Li que teve uma relação professional e emocional intensa com o realizador.
Noutro sítio encontrei outra imagem da Gong Li nesse filme
Do pouco conhecimento que tenho da moda chinesa parece-me que a generosidade do decote do vestido da imperatriz será uma concessão ao gosto ocidental, não parece um costume chinês.