2014-04-30

Filmes do Zhang Yimou



Costumo ver filmes de forma pouco distanciada, enquanto os vejo quase que esqueço que estou a ver  uma realidade fabricada, nem sempre fiel à realidade. Mesmo assim, ver filmes sobre outra sociedade pode ser uma forma de a conhecer um pouco melhor. Será provavelmente por isso que me interesso por filmes de culturas relativamente exóticas em relação a Portugal, como é o caso da cultura chinesa.

Com a hegemonia quase absoluta do cinema Americano é também uma forma de aceder a formas diferentes de fazer cinema, mesmo que inevitavelmente influenciadas por Hollywood.

Não sei se foi por ter ido a Macau duas vezes em 1990 e outra vez em 1993, coincidindo com a exibição frequente de filmes do realizador chinês Zhang Yimou, acabei por ver vários fiçmes deste realizador.

Na Wikipédia traz a lista dos filmes deste realizador aqui (com a versão em inglês incluindo pequena nota biográfica) de onde tirei este subconjunto que vi em Portugal:


Ano
Título em Chinês (pin yin)
Título em Português
1991
Da hong deng long gao gao gua
Esposas e Concubinas
1994
Huozhe
Viver
1994
Yao a yao yao dao waipo qiao
A Tríade de Xangai
2002
Ying xiong
Herói
2004
Shi mian mai fu
O Segredo dos Punhais Voadores
2006
Man cheng jin dai huang jin jia
A Maldição da Flor Dourada

Como se constata pelos anos de estreia dos filmes já os vi há bastante tempo, o que facilita a descrição tornando-a mais sucinta, dado que quase não consultei informação sobre os filmes.

O primeiro, com o título em português “Esposas e Concubinas”, trata das relações entre as várias esposas de um chinês rico por volta de 1920. É uma casa ricamente decorada mas com vidas infelizes das mulheres que as habitam, à espera que o senhor da casa as escolha para passar a noite. A casa é arquitectonicamente muito virada para dentro, claustrofóbica, os Portugueses parecem apreciar mais as casas com vista desimpedida.

No segundo filme, “Viver”, mostra as vicissitudes por que passa uma família vivendo na China durante o período da Revolução Cultural, tentando sobreviver às desgraças sucessivamente criadas pelo presidente Mao. A desenvoltura com que se tentaram na China caminhos diferentes do habitual, com consequências desastrosas, mostra aos mais distraídos as vantagens de existirem alternativas democráticas ao poder instituído.

No terceiro filme, “A tríade de Xangai”, um filme de gangsters, ficou-me a memória das traições e da enorme violência, coabitando com cenas de uma enorme beleza, mostrando mais uma vez que beleza e bondade são, como diria um matemático, variáveis completamente independents.

Os dois filmes seguintes, “Herói” e “O Segredo dos Punhais Voadores”, tratam de lendas e mitos da China antiga. Mais uma vez a beleza é avassaladora (e meço bem este adjectivo que acabo de verificar nunca ter sido usado até agora neste blogue). Outras memórias que ficam são as multidões de figurantes. Uma das grandezas da China consiste na possibilidade de dispor de multidões de seres humanos que se podem concentrar numa tarefa específica, como tapar o Sol com uma saraivada de flechas.

O ultimo filme que vi de Zhang Yimou, A Maldição da Flor Dourada” é sobre a vida na corte imperial, sobre histórias de traição e de crueldade. A traição da mulher (ou uma das) do imperador é descoberta por este que a obriga a ir bebendo um veneno de acção lenta às refeições. Mais uma vez uma história cruel em cenários claustrofóbicos de grande beleza, se bem que o cenário que mostro seja talvez excessivamente decorado. Reparem na ausência de vista para o exterior:




A personagem principal é a actriz Gong Li que teve uma relação professional e emocional intensa com o realizador.

Noutro sítio encontrei outra imagem da Gong Li nesse filme




Do pouco conhecimento que tenho da moda chinesa parece-me que a generosidade do decote do vestido da imperatriz será uma concessão ao gosto ocidental, não parece um costume chinês. 

2014-04-20

A permanência dos cortes



Há bastante tempo que se anda a falar na eventual permanência dos cortes dos salários da função pública e das pensões, referindo pelo meio a necessidade da sustentabilidade do Estado social no geral e das pensões de reforma em especial.

Considerando o historial das afirmações dos actuais governantes deixei de considerar quer as suas promessas, quer as suas previsões, quer mesmo as afirmações que fazem, dada a elevada probabilidade de se revelarem falsas ou simplesmente mentiras intencionais para enganar os governados.

O argumento mais recente em relação às reformas consiste em afirmar que estas deverão ser alinhadas com a economia e com a demografia.

Como é evidente que as reformas têm de depender da economia, referir essa dependência é apenas uma figura de retórica para dizer que o seu valor nominal não pode ser fixo ou, como já existe o factor de sustentabilidade que diminui as reformas quando a esperança de vida aumenta, que este ajuste é insuficiente.

Quanto à demografia o critério parece-me completamente absurdo. Embora haja muita gente manifestando preocupação com a baixa natalidade existente em Portugal, gente que por vezes defende um conjunto de medidas como o corte de prestações sociais de apoio à natalidade, a facilidade do despedimento, a necessidade de estar disponível para mudar de residência frequentemente e eventualmente emigrar, factores de instabilidade familiar que contribuem negativamente para essa baixa natalidade, mesmo a baixa natalidade actualmente existente em Portugal é demasiada para a actual classe dominante que não consegue empregar uma parte muito significativa dos jovens que vão chegando ao mercado de trabalho. Se existe esta forte incapacidade de empregar os jovens que temos, para que serviria aumentar o seu número?

Finalmente em relação à permanência de cortes que o governo pretente definir, inquieta-me a curiosidade doentia que os elementos do PS têm manifestado em relação a esses cortes, sobretudo pela ausência duma afirmação clara de que este governo não pode estabelecer nesta área de actuação medidas permanentes para além das legislaturas em que obtiver o mandato popular. O PS deveria afirmar claramente que quaisquer medidas designadas abusivamente como permanentes serão devidamente analisadas e corrigidas ou anuladas quando chegar ao governo.

Toda a permanência é relativa. Uma das pirâmides de Gisé que mostro a seguir tem permanecido durante milhares de anos, seguramente muito mais tempo do que as leis produzidas por este governo. Mas mesmo esta pirâmide não conseguiu permanecer inalterada ao longo da sua existência.


2014-04-14

Mulher sobre flor de lótus e Tai Chi Chuan


O tempo passa depressa, em Setembro de 2007 encontrei esta imagem num poster em Praga e desde o início deste blogue em Março de 2008 que penso de vez em quando em fazer um post sobre ela



Gostei da imagem, uma composição onírica com uma mulher sobre uma flor de lótus gigante flutuando sobre água. Parece-me quase inevitável que um ocidental se lembre imediatamente do quadro de Botticelli “O nascimento de Vénus”, em que a deusa do amor surge de uma concha, também rodeada de água, que mostro a seguir e que fui buscar à Wikipédia




A água é fonte da vida, os chineses estão mais virados para as águas interiores, os lagos de água doce onde crescem as flores de lótus, os gregos estavam mais ligados ao Mediterrãneo, de água salgada onde existem as conchas.

Em Outubro de 2007 fui à procura da imagem do poster com a ajuda do Google Imagens, para ver se percebia melhor o seu significado. Acabei por encontrar este site de que dou uma ligação em inglês, tratando-se de um instituto que dá aulas de artes marciais e de exercícios de vários tipos de ginástica chinesa. Esta foto é usada para anunciar lições de algumas técnicas de Tai Chi Chuan, a ginástica matinal praticada em grupo, nos jardins das cidades, por milhões de chineses e aqui fica uma imagem desse site, igual à do poster mas com melhor qualidade.




Fiquei fã do Tai Chi Chuan desde que o vi praticar pela primeira vez em Macau há muitos anos, cheguei a comprar um livro e uma cassete de video para iniciar a prática. Infelizmente o livro e a cassette eram de escolas diferentes, cada uma ciosa da sua técnica, tendo eu apenas imitado a parte muito inicial da lição da cassete de video, continuando a considerar esses movimentos de enorme beleza e elegância. Durante uns dois ou três anos a C.M.L. disponibilizou cursos de Tai Chi Chuan aos domingos de manhã, na Quinta Pedagógica dos Olivais, de Abril a Julho. Infelimente esses cursos já não foram ministrados o ano passado nem este ano.

Andei à procura no youtube de classes de Tai Chi e escolhi este, parece-me que da cidade de S.Francisco, que dá uma ideia da natureza dos exercícios:



2014-04-08

Passeios nos Olivais Sul


Os Olivais são um bairro muito completo. No outro dia num passeio pelo bairro deparei com este veículo estranho


Depois coloquei a imagem no Google Imagens mas sem sucesso, apareceram-me uns automóveis em tons de preto e azul mas nada que se parecesse com isto. Dei então uma ajuda ao Google dizendo que se tratava de um Renault e já apareceram imagens e sites designadamente este bastante informativo da Wikipédia.

Trata-se dum Renault Twizy Z.E. (como se constata na imagem...), provavelmente um "Urban", veículo eléctrico citadino, tratando-ne de um micro-carro de pequenas séries. Achei graça à versão "Concept car" muito mais espampanante, nesta imagem que trouxe também da Wikipédia


2014-04-02

A Europa não é velha, é antiga


Gostei muito desta página nº 66, do livro "A velha Europa e a nossa" do historiador Jacques Le Goff recentemente falecido, publicada pela Shyznogud aqui.



Gosto muito desta frase "A Europa soube distinguir entre uma pobreza voluntária, que é uma virtude, e uma pobreza imposta, que é uma infelicidade".

E também rejeito aplicar este adjectivo "velha" à Europa, que é apenas antiga, não está às portas da morte, com uma longa história, que pode ser uma força para a frente, ao mostrar-nos que é possível mudar, que existem alternativas aos rumos existentes, como disse há tempos aqui.