Quando andei a ler meia dúzia de textos sobre a figueira antes de escrever o post anterior passei por referências ao papel da folha de figueira para tapar a genitália de figuras nuas, quer em quadros quer em estátuas. Tal fazia sentido, dada a grande dimensão das folhas, facilitando o recato.
Pensei então que o ideal seria procurar quadros do Adão e Eva mas, embora tivessem aparecido vários no Google, não era evidente que as folhas que por vezes apareciam fossem de figueira. Além disso não gostei de muitos dos quadros referidos e acabei por escolher este par de quadros, pintados por Albrecht Dürer em 1507, e em exibição no Museu do Prado em Madrid. As imagens estavam disponíveis no próprio site do museu que, felizmente, tem uma galeria online com muitas das obras expostas, disponibilizando ficheiros de imagens com uma boa resolução. Aumentei ligeiramente o contraste e concatenei as imagens do Adão e da Eva, juntando numa única imagem os dois quadros.
As figuras, além da sua grande beleza parecem-me muito naturais, quer quanto à exactidão da representação, que parece fotográfica, quer quanto às proporcões e posições dos corpos. Faz-me sempre um bocado de confusão este dualismo ocidental do pudor na exibição do corpo nu no quotidiano e do à vontade com que são mostrados corpos nus em quadros ou mesmo em 3D, em esculturas exibidas em praças públicas.
Mas o casal Adão e Eva mais o seu pecado original lembrou-me o escritor Alain de Botton, autor de muitas obras de divulgação da Filosofia, que no seu último livro "Religião para Ateus" dá uma visão muito positiva do pecado original. Eu sempre tinha considerado injusta a versão católica da transmissão da culpa de pais para filhos, mesmo sendo essa culpa inicial apagada através do Baptismo de forma simples e eficaz. O papel que Botton atribui ao mito do Pecado Original é dizer-nos que os seres humanos nascem imperfeitos, sendo também uma forma de nos dizer que não vale a pena preocupar-nos com isso pois é uma característica de todos os seres humanos.
Claro que existe sempre o risco de nos tornarnos complacentes com os nossos erros mas também isso faz parte da natureza humana.
Regressando ás imagens e ao seu aspecto moderno, designadamente em relação às representações da Idade Média, senti há algum tempo a necessidade de fazer um diagrama cronológico (uma linha de tempo ou "timeline") com vários pintores mais conhecidos, para saber quem apareceu antes, quem coexistiu e quem veio depois. Fiz uma folha Excel, em que cada coluna representa um quarto de século e as barras têm um comprimento proporcional à duraçao da vida do pintor e com a mesma escala das colunas desta folha de excel, um pintor que tenha vivido 50 anos ocupará um comprimento igual à largura de duas colunas. Os de Itália ficaram azul claro, de língua alemã são castanhos, espanhóis (ou pintando em Espanha como o El Greco que era grego) cor-de-laranja, flamengos de roxo, um inglês verde e os de língua francesa em azul ultramarino. Não há ninguém que tenha nascido no século XX porque esses já se sabe que são todos recentes. Claro que haverá omissões mais ou menos gritantes conforme as preferências de cada um, se alguém manifestar interesse poderei disponibilizar o ficheiro excel. Aqui fica apenas a figura:
Quando os pintores morreram jovens e tinham um nome comprido ficaram com o nome truncado. São os casos de Caravaggio (Carava), de Van Gogh (Vangog) e de Modigliani (Modiglia).