2009-02-06

Condomínio fortificado



Detesto condomínios fechados, são uma regressão dos avanços que foi possível obter na civilização. É fácil imaginar que uma cidade cheia de condomínios fechados seria uma cidade com ruas desertas, ladeadas por muros, onde seria muito desagradável e eventualmente perigoso passear a pé.

O estabelecimento de uma sociedade minimamente solidária, onde se pode circular na via pública sem receio de ser roubado ou atacado, é um bem inestimável para os cidadãos.

Estas condições não existiram em Jaipur até meados do século XVIII, altura em que o Marajá abandonou o forte Amber, cuja vista de conjunto mostro nestas duas figuras,






tendo-se então mudado para o palácio na cidade nova construída na planície a uns 11 km de distãncia, organizada como Lisboa numa quadrícula de ruas paralelas e perpendiculares, com zonas para as diversas profissões.

Tenho-me interrogado porque não existem em Portugal castelos apalaçados ou palácios construídos como fortalezas, o que há de mais parecido com isto será talvez o Palácio da Pena em Sintra, mas trata-se de uma divagação romântica e não propriamente duma fortaleza.

Esta entrada, já no interior do forte, mostra a filigrana das janelas, criando sombra sem impedir a passagem da brisa.



Os reis da primeira dinastia de Portugal estavam mais preocupados em expandir o reino através da guerra de conquista do que em se limitarem a defender o património já conquistado, mas também não tinham como vizinhos toda esta gente que vive em terras terminadas em ão tais como o Irão, o Paquistão ou o Afganistão. Foi desta última região que vieram os grão-mogóis que pela última vez antes dos ingleses unificaram o território hoje ocupado pela União Indiana.

Embora aqui e ali se vejam representações de animais, a influência do Islão levou a um predomínio de decorações florais e geométricas, como se constata nestas incrustações de espelhos que criavam um ambiente de sonho nas noites à luz inconstante das velas.







No meio de tanta aridez, este pátio interior com um lago e com vegetação, criando uma zona de frescura, era um autêntico jardim das delícias.




É possível que rodeados por tanto luxo os Marajás se tenham esquecido das pessoas que viviam fora do palácio, ou talvez tenham mergulhado em tanto luxo porque já se tinham esquecido da vida dura que levavam as pessoas que governavam, ou se calhar governavam bem vivendo num ambiente de bom gosto, teria que estudar melhor a história da Índia para ter uma opinião fundamentada.

No entanto, a necessidade dos governantes se refugiarem numa fortificação até meados do século XVIII parece-me um péssimo indício, assim com me parece um mau indício as pessoas pensarem em recolher-se em condomínios fechados no século XXI.

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