2022-01-20

Hans Rosling (1948 - 2017) – Uma Biografia



Em Junho/2018 fiz um post referindo a actividade de Hans Rosling descobrindo preconceitos através da Estatística.

O apreço pelo que vi levou-me em 2019 a ler o livro  Factfulness (Factualidade) e a falar a propósito da evolução do abastecimento de água no Algarve.

Ele pretendeu agora nesta obra biográfica, cuja capa está ao lado, mostrar através da sua vida como as condições dos próprios suecos progrediram na segunda metade do século XX, os dilemas  que teve que resolver em África na qualidade de quase único médico de saúde pública duma área vasta de Moçambique, o regresso à Suécia ensinando na Universidade e mantendo contacto com estadias mais curtas em África. Depois tornou-se apresentador itinerante de estatísticas sugestivas sobre o estado do mundo. Esteve em Monróvia desde Out/2014 para combater no local o surto de Ébola na África Ocidental iniciado em 2014 e que terminou em finais de 2015.

Surpreenderam-me um pouco as condições de vida dos avós, vivendo inicialmente em 1915 numa casa alugada com soalho de madeira, com um quarto e uma cozinha. Em 1927 mudaram-se com os então cinco filhos para uma nova casa mais ao pé do emprego, com apenas 24 metros quadrados, mas já com electricidade e água canalizada. Em 1930, quando se mudaram para a casa que o avô construiu, esta tinha 4 divisões todas com energia eléctrica e uma latrina na cave. Mas em 1952 quando Hans foi viver algum tempo com os avós, porque a mãe contraíra tuberculose estando hospitalizada, ele acidentalmente resvalou para um esgoto a céu aberto em frente da casa dos avós, na zona de Eriksberg em Uppsala, tendo sido salvo por uma tia quando quase afogado já só tinha um pé de fora do líquido imundo.

Hans foi o primeiro elemento da família a ir estudar para a Universidade concluindo o curso de medicina. Como estudante viajou pela Europa começando pela Inglaterra e país de Gales aos 16 anos.

Como secretário da Associação de estudantes da Universidade organizou em 1967 um encontro com Eduardo Mondlane que estava de visita à Suécia para angariar fundos para os combatentes da independência de Moçambique, encontro que para sua vergonha teria apenas um auditório de 8 pessoas. Mas gostou do que ouviu e prometeu que quando acabasse o curso de medicina em 1975 iria trabalhar durante algum tempo para Moçambique. A juventude sueca desse tempo tinha consciência das grandes melhorias das condições de vida ocorridas na Suécia na construção do Estado Social e queriam contribuir para que países mais atrasados passassem por uma melhoria semelhante.

Ainda como estudante em 1972 visitou o Ceilão e a Índia. Parte do plano da viagem era ser aluno convidado na Faculdade de Medicina St. John em Bangalore, onde se apercebeu que os estudantes indianos usavam na altura o “Harrison”, um manual de Medicina americano mais completo do que o manual em uso na altura na Suécia.


Em Portugal este manual era usado após os 6 anos de estudo de Medicina na preparação da Prova de Acesso à Especialidade e em Novembro de 2019 teve lugar a primeira prova com esta função, após cerca de 40 anos, que deixou de se basear de forma quase exclusiva nesse manual.

Fiquei também a pensar na importância que as estatísticas têm na forma que os suecos têm de abordar os problemas sociais, designadamente na saúde pública, dado serem dos primeiros países a fazer estatísticas sobre variados aspectos da sua sociedade. Referem aqui a organização “Statistics Sweden” que existe desde 1858. Contudo foi logo em 1764 que informação sobre a população sueca foi publicada pela primeira vez.

Vi a capa de uma edição inglesa aludindo a um dos gráficos mais sugestivos usado por Hans Rosling que mostro aqui ao lado.

Resumindo, gostei muito de ler o livro que recomendo.


Adenda: alguns gráficos interessantes da Gapminder, fundação criada por Hans Rosling, Ola Rosling e Anna Rosling Rönnlund estão aqui: https://www.gapminder.org/tools/#$chart-type=bubbles&url=v1

1 comentário:

José Carlos Borges disse...

Muito interessante Zé Júlio . Nós que conhecemos a realidade africana,sabemos quão utópico é pensar que ...ah deixa para lá. Abraço