2019-12-23

A viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães



Comemorando os 500 anos da viagem de circum-navegação o jornal Expresso distribuiu nas últimas semanas uma série de 5 livrinhos



em que os 3 primeiros são uma reedição da obra de Stefan Zweig “Fernão de Magalhães. O homem e sua acção (Biografia)” publicada em 1938 e traduzida em muitas línguas e os 2 últimos são intitulados “Fernão de Magalhães – A Viagem por Gonçalo Cadilhe”.

Li  com interesse os 5 livros, a parte do Stefan Zweig não é uma obra de historiador mas relata de forma muito interessante quer as primeiras viagens de Fernão de Magalhães ainda ao serviço de D.Manuel, rei de Portugal, quer as vicissitudes sofridas durante a primeira viagem de circum-navegação da Terra, já ao serviço de Carlos V, rei de Espanha.

Presumo que o Stefan Zweig foi no geral fiel aos conhecimentos históricos de 1938 sobre os eventos da biografia e em situações onde existiam mais do que uma versão do que se terá passado terá escolhido a que gostou mais ou que se integrava melhor na obra biográfica.

Stefan Zweig destaca bem o desconforto da armada de 5 navios de Espanha ser comandada por um português, numa altura em que existia tanta competição entre navegadores dos 2 países.

Magalhães estava convicto que o estuário do rio da Prata, onde se situam agora as cidades de Buenos Aires e de Montevideu, seria a passagem do oceano Atlântico para o Pacífico e ao constatar não existir aí uma passagem foi forçado a fazer verificações morosas da costa da Argentina vendo-se obrigado a passar o Inverno austral na baía de S.Julião (49º19’Sul, 67º44’ Oeste), 350 km a Norte da entrada do Estreito de Magalhães e 1800 km a Sul da foz do Rio da Prata. Para dar uma ideia, na Europa nesta latitude está o Canal da Mancha, comparando Puerto San Julián e Dover, constata-se que o inverno é mais frio nesta zona da Argentina.

Foi onde ocorreu um motim em que os amotinados mataram um elemento da tripulação. Fernão de Magalhães condenou o assassino à morte abandonando ainda dois outros membros da expedição, na costa desértica e inabitada dessa parte da Argentina, de quem não houve mais notícia.

Quando finalmente descobriram a passagem entre os dois oceanos, que tem cerca de 500 km de extensão, o navio San Antonio regressou a Espanha abandonando a expedição após motim em que o comandante do navio Álvaro Mesquita foi preso pela tripulação tendo o navio sido capitaneado por Jerónimo Guerra e pilotado por Estêvão Gomes na viagem de regresso a Espanha. Este piloto manifestara, em reunião convocada por Fernão de Magalhães, a opinião que dado o cansaço e poucos mantimentos disponíveis nos navios seria mais prudente regressar a Espanha e no ano seguinte fazer outra expedição, iniciando a travessia do Pacífico em boas condições.

Fiquei com curiosidade de saber como teria o rei de Espanha avaliado esta iniciativa desertora de Estêvão Gomes (Estéban Gomez). Li as versões da Wikipédia sobre este piloto em português, espanhol e inglês.

Quando o navio San Antonio chegou a Sevilha em Maio/1521 Estêvão Gomes foi imediatamente preso mas quando em Setembro/1522 chegou o único navio sobrevivente da expedição, comandado por Sebastián del Cano, face às descrições do que se tinha passado, foi libertado. Posteriormente convenceu o imperador Carlos V a financiar uma expedição em 1524 para fazer um levantamento da costa da América do Norte e procurar outra eventual passagem para o oceano Pacífico.

Encontrei também este documento em formato .pdf
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Fiquei impressionado com a facilidade de acesso a esta informação já bastante especializada.

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