2017-05-30

Os Descobrimentos Portugueses (4)



Estas minhas divagações sobre esta obra do Jaime Cortesão não são um resumo da obra de 960 páginas mas mais uma colectânea dos assuntos  que me despertaram mais a atenção.

No volume II apercebi-me finalmente (já não era sem tempo...) que os moçárabes eram os cristãos que permaneceram nos territórios conquistados pelos árabes, que invadiram a península ibérica no século VII e que por cá ficaram até ao século XV, ficando sob governação árabe, mantendo a sua religião mas adoptando muitos elementos da cultura do árabe, designadamente muitas palavras e muitas técnicas agrícolas.

Voltei a reparar que os rios vão assoreando e cidades como Silves e Coimbra, que há séculos foram portos marítimos com boas condições, hoje perderam o acesso comercial ao mar.

No volume IV fala-se dos Açores e do Mar dos Sargaços e mais uma vez refere-se a enorme dificuldade que a política de segredo do século XV coloca ao historiador actual, falando a seguir do desastre de Tânger onde ficou preso e morreu o infante D.Fernando.

Na página 403 deste volume fala-se das festas que alcançaram o auge em Lisboa nos últimos 12 dias que precederam a partida por mar em 25/Out/1451 com destino ao porto de Nápoles de D.Leonor, filha do falecido rei D.Duarte e irmã do rei D.Afonso V, para se casar com Frederico III, imperador do Sacro-Império Romano-Germânico e do choro colectivo que nessas festas suscitava a referência ao infante D.Fernando conforme relatado por um enviado e procurador do imperador.

Desde que fui surpreendido na biblioteca Piccolomini da catedral de Siena em Itália por este fresco


representando o encontro nessa cidade entre o imperador Frederico III e a princesa Leonor de Portugal, então noivos, e sobre o qual já falara neste post e ainda neste outro que sempre que vejo uma referência a este evento me interesso mais do que habitualmente para eventos desta natureza.

Desta vez fui à procura de mais imagens do casal, tendo encontrado referências as estas imagens






nas entradas da Wikipédia sobre o imperador Frederico III (1415-1493) e sobre a imperatriz Leonor de Portugal (1434-1467) que faleceu com apenas 33 anos mas deixando descendência.

Atribuem estes quadros ao pintor alemão Hans Burgkmair (1473-1531), o que me parece estranho dado que quando ele nasceu a imperatriz já tinha morrido, não encontrei ainda explicação para esta atribuição.

As imagens separadas parecem inspirar-se naquela em que estão juntos, pessoalmente prefiro aquelas em que estão separados. Não são cópias puras e simples, os escudos do Sacro-império e de Portugal estão em sítios diferentes e com dimensões diferentes nas representações quer da imperatriz quer do imperador.

Adenda: enviei um e-mail para o Kunsthistorisches Museum de Viena, onde se encontram estas obras de Hans Burgkmair no passado domingo (28/Mai) à noite e logo hoje de manhã (terça-feira dia 30/Mai/2017) tinha uma resposta do museu confirmando que se trata de um retrato póstumo, feito a partir dum retrato elaborado quando a imperatriz era viva. Desconhecia este conceito de "retrato póstumo" que me pareceu à primeira vista muito estranho. No entanto vejo utilidade no conceito, quer por o original se ter degradado muito, quer pela possibilidade de usar novas técnicas e/ou um pintor mais talentoso. No site do museu encontram-se reproduções destas imagens com maior definição.

Entretanto consultei a Wikipédia sobre os escudos usados nas diversas bandeiras de Portugal pois achei que o escudo de Portugal tinha castelos a mais. Aprendi que o número actual de 7 castelos é usado desde 1481



O número de castelos evoluiu de 13 para 10 e actualmente 7 mas não encontrei justificação para qualquer dos números escolhidos, fiquei a pensar que documentar as decisões tomadas não é o forte dos portugueses.

Resta-me a conjectura que passámos de querer mostrar que já tínhamos muitos castelos para uma representação mais minimalista. A cruz de Avis durou relativamente pouco e já tinha sido abandonada mesmo antes de 1481 pois não está representada nas imagens de Leonor.



2017-05-24

RHS Chelsea Flower Show


Quando uma vez disse a um inglês que gostava imenso dos jardins ingleses ele recomendou-me que seguisse os "Royal Horticultural Society shows/events", que organizavam visitas a jardins memoráveis.

Tomei agora conhecimento que decorre o Chelsea Flower Show, julgo que um evento anual, desta vez de 23-27/Mai.

Não estou à vontade para descrever a organização deste evento, mas passei por umas páginas da internet e guardei dele estas 5 fotos de "The Anneka Rice Colour Cutting Garden":








2017-05-22

Capas de revistas



As capas das revistas costumam trazer imagens que valem mais do que 1000 palavras, ainda mais quando são acompanhadas de poucas legendas.

À semelhança dos quadros, as fotografias  prestam-se a comentários quase sem fim, diria que contendo mais de 1000 palavras para fazer jus à frase comum..

Esta capa da Time de Dezembro de 2016 mostra que a revista não é fã de Donald Trump, fotografado na sua casa de Nova Iorque, ao nomeá-lo “Presidente dos Estados Divididos da América”.

Quando alguém é nomeado “pessoa do ano” pela Time isso significa que foi uma pessoa com um grande impacto global mas não necessariamente por boas razões.

Googlando (time person of the year 2016 image) podem-se ler  muitos comentários a esta fotografia de Nadav Kander, desde a posição do corpo e o fundo escuro ao forro parcialmente roto do cadeirão misteriosamente seleccionado para figurar na foto.






Não me tinha apercebido da quantidade de capas da Time em que Trump tem aparecido recentemente mas ao procurar na internet mais capas da Time cheguei entre outras a esta de Fevereiro de 2017 ,





Com este filminho do “making-of”:







A última capa da Time de Maio de 2017 mostra a Casa Branca transformando-se num edifício de estilo russo, com a cobertura já decorada com as cúpulas da catedral de São Basílio de Moscovo e com a cor branca já parcialmente mudada para o castanho avermelhado das paredes do Kremlin, traduzindo as suspeitas que se avolumam a cada semana que passa sobre as interferências russas nos E.U.A.



Curiosamente a revista humorística “Mad”, de que eu não ouvia falar há muito tempo, dedicara uma capa muito parecida ao tema da influência da Rússia sobre Trump já em Dezembro de 2016. A revista Mad diz-se honrada por este tributo que a Time agora lhe presta dado que há muitos anos lhe fizera alguns comentários desagradáveis. A seguir mostro a comparação das duas capas apresentada pelo Washington Times:






2017-05-18

O orgulho de ser japonesa


Li esta história deliciosa na BBC, onde contam que no Japão apareceram recentemente posters como este


com um texto dizendo "Estou contente de ser japonesa. Levantem a bandeira do Japão com orgulho no coração" (traduzido da versão inglesa da BBC). O poster levantou alguma polémica, pessoas viram com receio um possível regresso do nacionalismo japonês que deixou más memórias, outros diziam que gostar do seu país e da sua bandeira era natural.

Entretanto descobriu-se que a mulher que aparece no anúncio é chinesa, sendo a fotografia propriedade das Gettyimages como se constata por esta imagem


com ligação ao sítio da gettyimages onde diz que foi produzida em Beijing e tem como uma das palavras chave "chinese ethnicity".

Segundo o Huffington Post do Japão o poster foi encomendado por uma associação de santuários shintoístas ( a religião nacional do Japão).

Lembrei-me desta canção do Peter, Paul and Mary, cujos primeiros versos tocavam com enorme frequência no programa "Em Órbita" nos anos 60



cuja letra copiei deste Youtube

«
Because all men are brothers wherever men may be
One Union shall unite us forever proud and free
No tyrant shall defeat us, no nation strike us down
All men who toil shall greet us the whole wide world around.

My brothers are all others forever hand in hand
Where chimes the bell of freedom there is my native land
My brother's fears are my fears yellow white or brown
My brother's tears are my tears the whole wide world around.

Let every voice be thunder, let every heart beat strong
Until all tyrants perish our work shall not be done
Let not our memories fail us the lost year shall be found
Let slavery's chains be broken the whole wide world around.

Songwriters TOM GLAZER
Published by Lyrics © MEMORY LANE MUSIC GROUP
»

Apercebi-me agora que se trata de uma composição de Johann Sebastian Bach neste Youtube



Quem sabe ler partituras poderá obter a desta música aqui.

Adenda(s): entretanto um amigo indicou-me o Youtube que segue, com o coral "O Haupt voll Blut und Wunden" na Paixão segundo S.Mateus de J.S.Bach:




coral que afinal antecede o Bach como diz neste sítio indicado num comentário da Helena.

2017-05-16

Os Descobrimentos Portugueses (3)


Na caracterização das civilizações Jaime Cortesão criticava o sistema de castas na Índia e elogiava vários aspectos da civilização chinesa. Os motivos para fazer todas estas viagens não são naturalmente esquecidos, a conquista, a propagação da fé cristã e a realização de bons negócios tiveram todos a sua parte, não necessariamente por esta ordem.

Já não me lembro se também falou na posição periférica da peninsula ibérica, bem como da Inglaterra e da Escandinávia, quem está longe do centro tenta descobrir o que há lá longe.

Na descrição das dificuldades encontradas pelos portugueses o autor dá o devido (talvez até um pouco demais...) relevo às dificuldades da navegação no Oceano Atlântico designadamente à existência de correntes e de  ventos, cujas direcções estatisticamente dominantes variam com o local e com as estações do ano, para não falar nas tempestades. Por exemplo as zonas sem vento do Golfo da Guiné obrigavam os navios a afastar-se muito da costa para chegar ao sul do continente africano. Por outro lado, era difícil conhecer a localização do navio no alto-mar pois enquanto a latitude era relativamente fácil de determinar com o céu descoberto, o cálculo da longitude revelou-se muito mais difícil conforme relatado na entrada “longitude” da Wikipédia ou com mais pormenor na entrada “History of longitude”, sintomaticamente sem versão em língua portuguesa pois a sua versão está incluída na primeira entrada referida.

O almirante Gago Coutinho refez algumas viagens no Atlântico em embarcações à vela para verificar a plausibilidade de conjecturas sobre o que se tinha passado em algumas das viagens dos portugueses no século XV.

No mar alto só os astros nos podem guiar. Neste mar do Algarve a esteira luminosa indica aproximadamente a direcção Sul.




Os Descobrimentos Portugueses (2)


Acabei de ler a republicação pelo jornal Expresso desta obra de Jaime Cortesão que já referi aqui.

Tenho uma ligeira obsessão pelas datas dos documentos, quanto mais não seja como critério de último recurso para os classificar e noto que nas edições portuguesas existe geralmente pouca consideração por esta informação. Por exemplo nesta edição refere-se apenas que foi impressa em Março/2016, sendo omissa quanto à data da primeira publicação. 

Vi na pág.797 do Volume VII uma referência às comemorações do V Centenário da morte do Infante D.Henrique que ocorreram em 1959 e dado que o autor faleceu em 1960 o original foi concluído entre estes dois eventos.

Trata-se portanto de um texto escrito há 57 anos, período de tempo que o torna mais adequado para os historiadores do que para o público em geral. Em tempos li que a História tinha que ser revista periodicamente, tendo-me nessa altura começado a aperceber que a História é a perspectiva que as gerações do presente têm do passado e que a visão que se tem se vai alterando, não só pelos factos que se ignoravam e que foram descobertos como pelo maior ou menor interesse que cada face da realidade vai tendo para quem vive no presente.

Em casos mais extremos, por exemplo como aconteceu na Rússia em que os governantes apagaram das fotografias as imagens de dirigentes caídos em desgraça, na Alemanha nazi em que se queimaram livros ou noutros países, como na China durante a Revolução Cultural, de onde se dizia que “na China o passado é imprevisível” existe também a tentativa de alteração dos registos do passado pelos poderes do presente. George Orwell escreveu magistralmente sobre isso no romance “1984”uma tentativa parcialmente bem sucedida de vacina contra regimes totalitários.

Mas mesmo sem estes casos extremos convivo actualmente muito bem com o pensamento de que “o nosso conhecimento futuro do passado é imprevisível” que por vezes se abrevia para “o passado é imprevisível”.

O nosso conhecimento dos Descobrimentos Portugueses é perturbado pela aplicação do segredo que as autoridades usavam para impedir o acesso dos concorrentes potenciais às terras onde existiam as mercadorias valiosas, para não falar da contra-informação também usada pelos portugueses para induzir em erro a concorrência.

Abrangido pelo segredo estava naturalmente o conhecimento geográfico que se traduzia em mapas que por vezes eram roubados por entidades externas de que um dos melhores exemplos é este mapa designado “Planisfério de Cantino




“obtido clandestinamente em Portugal em 1502” e enviado para Itália  onde se encontra actualmente.

Outro suporte dos descobrimentos foi a caravela,


uma embarcação desenvolvida em Portugal a partir dos barcos mouros de pesca, bem adaptada para as viagens de exploração do oceano pela sua agilidade na progressão contra o vento e cuja venda a estrangeiros esteve proibida pelo rei.

Depois de falar sobre os (des)conhecimentos geográficos e civilizações do final da Idade Média, designadamente as Ameríndias, as dos Berberes, da África Negra, do Islão e do seu domínio do comércio de longo curso com a Índia e a China a obra aborda o papel importante que teve a Ordem dos Franciscanos na reabertura do Cristianismo ao mundo, trocando o ideal do asceta vivendo enclausurado num mosteiro preparando-se para a vida eterna pelo ideal de viver fora do claustro levando o exemplo de Cristo ao povo e aos infiéis, traduzindo no nível religioso a mudança de uma economia fechada para uma economia mercantil. Nas caravelas costumava ir sempre um franciscano.

2017-05-11

Divórcio instantâneo de muçulmanos na Índia



O homem diz "talaq, talaq, talaq" e o divórcio está consumado diz neste artigo da BBC News que esta tradição entrou na lei indiana em 1937.

Aguardo com curiosidade o que dirá o tribunal depois de ouvir o comité com um representante Hindu, um Sikh, um Cristão, um Zoroastriano e um Muçulmano. Que será feito dos Jain?

Pela minha parte considero que a lei deve dar suporte a estas associações entre seres humanos fazendo alguma regulação na tutela dos filhos, na partilha e na transmissão de propriedade.

E como já disse aqui partilho a antipatia do Amartya Sen pelo multiculturalismo. 

Se calhar vão dizer que se a mulher disser "qalat, qalat, qalat" anula o efeito do "talaq, talaq, talaq" e em português até faria foneticamente sentido.

2017-05-09

Trajectos das Aves - Iskiografia


Vi no blog da Helena Araújo umas curvas sobre azul que me intrigaram, como esta




ou esta


 São "Iskiografias" das trajectórias de aves voando que revelam curvas muito belas, que podem ser vistas neste sítio do Lothar Schiffler, onde tem este "making of" que me reenviou para este filme na Vimeo:






2017-05-04

Os Descobrimentos Portugueses e os Painéis de Nuno Gonçalves


Ando há imenso tempo a ler a obra do Jaime Cortesão “Os Descobrimentos Portugueses” na versão publicada pelo jornal Expresso já no ano de 2016. Neste caso a razão do grande tempo de leitura é instrumental pois dado o pequeno tamanho de cada um dos volumes tenho reservado a respectiva leitura para os tempos de espera no dentista e em alguns outros locais onde é preciso esperar, tendo-se dado o caso que os tempos de espera têm sido felizmente curtos.

Estou agora quase a terminar a leitura e farei depois do fim mais algumas considerações sobre a obra. Uma das características que me desagradou foi o desfasamento entre o grau de detalhe em que eu estava interessado e o que era oferecido no livro, “obrigando-me” a saltar algum texto, o que não gosto de fazer com receio de perder algo que seja importante.

Um dos temas que me pareceu ser abordado de forma excessivamente longa foram os Painéis de S.Vicente a que dedicou 54 páginas, da pág. 623 à 677! Bem sei que estes painéis da autoria de Nuno Gonçalves, reencontrados na igreja de S.Vicente de Fora nos finais do século XIX, foram objecto de muito longas discussões quer sobre a sua autoria quer sobre a sua data.

Neste artigo da Wikipédia dá notícia que não existem actualmente dúvidas nem sobre o autor nem sobre a data que se pensava ter sido entre 1470 e 1480 mas que agora se considera ter sido 1445, baseado numa inscrição ao pé da assinatura e numa análise de dendrocronologia.

Existem várias imagens de boa qualidade (como habitualmente na Wikipédia) disponíveis no artigo que refiro acima, de onde tirei esta



Tinha alguma antipatia por quadros antigos, talvez como reacção à preferência preconceituosa das pessoas minhas próximas pelas coisas antigas, como se o facto de algo ter sido feito há mais tempo fosse sinal de qualidade. Talvez também aquelas vestimentas tão pouco práticas  e o excesso de temas religiosos me afastasse destas pinturas. Agora já lhes acho mais graça.

Na dificuldade de seleccionar uma parte do texto das 54 páginas dedicadas por Jaime Cortesão a esta obra fui ver o que dizia dela a “Larousse Encyclopedia of Art and Mankind”, da HAMLYN, coordenada por René Huyghe, no volume “Renaissance & Baroque Art”, uma obra que, embora volumosa abrange arte de todos os países da Europa durante os séculos 15 a 18, o que obriga a economia de palavras sobre cada obra em destaque.

Neste caso, sobre os painéis de São Vicente, Adeline Hulftegger diz o seguinte (arrisquei traduzir):
«
... no terceiro quartel do século 15 o génio de um homem colocou a pintura portuguesa no topo. Embora não se conheça a exacta origem do seu estilo, sabe-se que Nuno Gonçalves foi influenciado directamente pelo realismo flamengo, que chegara a Portugal com a viagem de Van Eyck a Lisboa em 1428. A mestria de Nuno na forma escultórica e na composição monumental, combinada com um sensibilidade decorativa rara enraizada na tradição da tapeçaria, assim como a beleza das suas cores quentes realçadas por tons frios contrastantes, teriam bastado para lhe atribuir uma posição importante na pintura, mesmo sem considerar o talento raro de retratista que penetra além da aparência exterior. As figuras fortemente caracterizadas no Políptico de S.Vicente(Lisboa), que vibram com uma vida interior afectada por alguma tristeza, revelam a nova importância que era atribuída ao indivíduo. Nisso, assim como no tratamento amplo e na liberdade da composição – absolutamente sem igual até aos tempos modernos – o trabalho de Nuno Gonçalves chega muito para além dos confins da arte medieval. Quando no tempo do rei D.Manuel, sob a égide dos pintores de Antuérpia, a pintura portuguesa ficou mais brilhante e as suas cores mais refinadas, ainda estava imbuída desta mesma melancolia subtil e às vezes deste mesmo calor humano.
»

Mas na sua ânsia de contribuir para a datação dos painéis, Jaime Cortesão recorre mesmo à moda dos tempos, hábitos efémeros que nos podem ajudar a datar algumas imagens. Neste caso cita “Le costume en Bourgogne de Philippe le Hardi à la mort de Charles le Téméraire (1364-1477)” por  Michèle Beaulieu e Jeanne Baylé.

Chegado aqui interroguei-me como teria chegado a Portugal a moda da Borgonha, numa altura em que ainda não existiam estas rápidas viagens de avião. Além de D.Afonso Henriques ser da linhagem duma anterior dinastia da Borgonha, o próprio Van Eyck trabalhava para o Duque da Borgonha, tendo vindo a Portugal em 1428 precisamente para retratar a princesa Isabel numa perspectiva de acertar um casamento com o Duque da Borgonha que se veio a concretizar. E Jaime Cortesão chamou a atenção para o decote relativamente generoso (para a época) da dama do chamado Painel do infante que mostro a seguir



decote que ele citou como “fenêtre du diable”, designação que achei engraçada, se bem que sexista.

Em tempos ouvi outra classificação de decotes, designados pelo termo “decote até ao filho” em que “filho” era o local do corpo onde tocava a mão da crente quando pronunciava essa palavra enquanto se benzia dizendo “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Seria por exemplo este decote da Marylin Monroe



Por coincidência temporal, a cidade de Lisboa foi actualmente invadida por cartazes mostrando a Irina Shayk anunciando um novo soutien da marca Intimissimi, adequado para decotes ainda mais ousados como se vê na imagem


Trata-se ainda de outro tipo de Descobrimento.