2014-06-29

Declaração de Humanidade


Em Tóquio está o “Meiji Shrine”, em português “Santuário Meiji”, um parque cheio de árvores como esta



de que mostro detalhe




no meio da cidade, onde repousam os restos mortais do imperador Meiji.

A dinastia Yamato de imperadores do Japão é a mais antiga do mundo inteiro, existindo provas da sua existência ininterrupta desde há 1500 anos e alegações de que existe desde 660 AC (Wikipedia dixit). 

Num período de tempo tão grande o papel do imperador foi mudando, umas vezes mais executivo, outras vezes mais afastado do poder, como um monarca constitucional. De 1868 a 1912, situa-se a era Meiji em que o imperador, na sequência da abertura forçada dos portos do Japão aos estrangeiros, retomou um papel activo na condução da política e fomentou a introdução das técnicas ocidentais na sociedade japonesa.

No recinto existiam várias lanternas como esta


de que deformando obtive esta imagem


que a guia disse ser o símbolo do imperador do Japão.

Tive a ilusão de classificar o grafismo, na sua simplicidade geométrica, como um exemplo de Art Déco, mas neste artigo dão a entender que a forma deste selo do imperador, duma flor estilizada com 16 pétalas já é usado há vários séculos. A bandeira do imperador tem o selo sobre um fundo vermelho. Estas formas fizeram-me lembrar estas.



Ao mesmo tempo que se desenrolavam umas cerimónias shintoístas em que as crianças manifestavam, como nas igrejas cristãs, interesses diferentes dos adultos,




noutra parte do recinto um grupo de pessoas vinha,ao que presumo, mostrar o seu respeito pelo imperador Meiji.




Este formalismo é realmente exótico, não existem túmulos em Portugal onde as pessoas vão fazer uma vénia, ainda por cima vestidas tão formalmente. O nome de “santuário” para designar um local onde está o túmulo dum imperador dá a entender que o local é mais do que um mausoléu de uma pessoa importante, trata-se de um local sagrado.

Enquanto numa religião monoteísta o rei só pode aspirar no máximo a ser o representante de Deus na terra, reivindicando mesmo assim poderes absolutos, em religiões politeístas como no shintoísmo o rei ou imperador pode-se habilitar a ter mesmo um estatuto divinal.

Esse estatuto deve ter contribuído para que o imperador Hirohito não tenha sido julgado pelas suas responsabilidades no comportamento agressivo do Japão que culminou nas atrocidades cometidas na invasão e ocupação de muitos países da Ásia antes e durante a 2ª grande guerra mundial. Porém o comandante supremo das forças aliadas, general MacArthur exigiu do imperador uma “Humanity Declaration”:
«
Delivery of this rescript was to be one of Hirohito's last acts as the imperial sovereign. The Supreme Commander Allied Powers and the Western world in general gave great attention to the following passage towards the end of the rescript:
朕ト爾等國民トノ間ノ紐帯ハ、終始相互ノ信頼ト敬愛トニ依リテ結バレ、單ナル神話ト傳説トニ依リテ生ゼルモノニ非ズ。天皇ヲ以テ現御神トシ、且日本國民ヲ以テ他ノ民族ニ優越セル民族ニシテ、延テ世界ヲ支配スベキ運命ヲ有ストノ架空ナル觀念ニ基クモノニモ非ズ。
The ties between Us and Our people have always stood upon mutual trust and affection. They do not depend upon mere legends and myths. They are not predicated on the false conception that the Emperor is divine, and that the Japanese people are superior to other races and fated to rule the world. (official translation)

»

Existem algumas dúvidas sobre a qualidade da tradução oficial, mas esse é o destino de todas as traduções bem como de todas as interpretações de textos.

É verdadeiramente extraordinário que um homem venha dizer que não é divino, reconhecendo a sua natureza humana.

Para pessoas comuns como eu as dúvidas sobre a minha natureza humana só se têm manifestado na internet, sob a forma de suspeitas de que eu seja um robot.

2014-06-27

Ikebana


Como em muitas outras coisas os japoneses também são perfeccionistas nos arranjos florais.


O suporte para as flores não costuma ser um recipiente cilíndrico ou cónico, ao contrário das jarras comuns no ocidente e as flores, embora importantes, não são tão dominantes no arranjo como se constata aqui





mas usar jarras "cilíndricas" não é proibido:



embora as taças largas e baixas  (como a que segue) recorendo ao "kenzan" sejam mais frequentes





2014-06-18

Salada de atum


A propósito do tempo quente, antes que passe:



Leito de alface,  6 rodelas de pepino nos vértices de um hexágono sobre as quais se colocam 6 rodelas de ovo cozido, meia lata de atum aos bocadinhos entre as 6 rodelas, com um pouco de maionese em cima de cada pedacinho de atum, 3 ou 6 azeitonas, 1/4 de maçã Granny-Smith (ou outra) cortada aos bocadinhos e colocada no centro, para onde vai também o que sobrou das 6 rodelas de ovo. Mais um pouco de maionese no centro.


2014-06-15

Adeptos de futebol


Não sou adepto de futebol, conforme disse aqui citando um texto do Umberto Eco, mas hoje ao passar pelo site da BBC, fui surpreendido por esta imagem de espectadores da final do campeonato do mundo de 1950, realizado no Brasil, em que este perdeu para o Uruguai por 1 a 0.



O tempo vai passando e uma pessoa esquece-se de como as coisas eram. Neste caso não consegui ver uma única mulher na foto, ir ao estádio de futebol ver um jogo era uma actividade reservada exclusivamente aos homens, assim como ir ao café à noite, etc. Não se vêem cabelos compridos e os bigodes eram mais frequentes.

O outro pormenor são os dois homens engravatados que aparecem em primeiro plano. São uma minoria mas há muitos que têm casaco. Houve um tempo em que os homens da classe média andavam sempre engravatados, durante a semana com fato completo eventualmente incluindo colete, ao fim-de-semana com o que então se chamava um "fim-de-semana" em que o casaco podia ser de "fantasia", com uns padrões menos mortiços do que nos dias de trabalho.

Depois fui à procura de uma foto do campeonato mundial em curso, encontrei esta (enfim, o Google encontrou-a por mim), num jornal do Canadá.




As mulheres são agora uma pequena minoria mas já existem. E não se vêem gravatas.

2014-06-08

θέατρο


Quando vou à Grécia um dos meus passatempos frequentes é tentar decifrar as palavras escritas com o alfabeto grego que me vão aparecendo.

Não sei grego mas na Matemática e na Física fui usando a quase totalidade do alfabeto grego, além dos parâmetros que iam aparecendo na matemática, como os coeficientes α (alfa), β(beta), γ(gama), δ(delta), os ângulos que muitas vezes eram designados por θ(teta), as quantidades pequenas que costumavam chamar-se ε(epsilon) e também na física onde  havia o τ(tau) que costumava designar o tempo e o ρ(ró) para a densidade de carga eléctrica. A wikipédia tem naturalmente uma entrada sobre o alfabeto grego.

Por outro lado, muitas palavras da língua portuguesa derivam de palavras gregas, no liceu dizíamos que “ou vem do grego ou do latim”.

Neste caso temos um θ inicial seguido de um έ que faz pensar em “té” seguido de um α dando “té-á” a que se junta um τ passando a “té-á-t” e depois com o ρ a “té-á-tr” e com o omicron final (letra pouco usada em matemática dada a sua forma idêntica ao nosso “o”) fica “té-á-tró” ou melhor “teatro”!

Lembro-me ainda da alegria desta “descoberta” em Atenas, de que o edifício que estava á minha frente e que tinha este conjunto aparentemente incompreensível de símbolos, se tratava de um teatro!

Não garanto que as letras não estivessem em maiúsculas e então seria “ΘΈΑΤΡΟ”. Se colocarmos a letra θ no google tradutor e clicarmos no altifalante constatamos que a letra que os portugueses chamam por “teta” é chamada em grego “thita”, como se diria em inglês, onde a letra se chama “Theta”

Tenho a ideia que no teatro grego se usavam máscaras, que mostravam as emoções dos actores de forma bastante explícita. As que mostro a seguir são usadas no carnaval de Veneza e servem para ocultar caras e não para explicitar emoções.




Porque é que me lembrei agora de “Teatro”?

Foi por causa da surpresa manifestada, mais uma vez, pelo primeiro-ministro Passos Coelho pelas decisões do Tribunal Constitucional (TC). Bem sei que o actual presidente Cavaco Silva, quando primeiro-ministro disse que não lia jornais. Mas mesmo não lendo jornais, para quem viva em Portugal fora de um convento ou sem ser no alto de uma coluna, como alguns ascetas dos primeiros tempos do Cristianismo, é impossível ignorar a quantidade enorme de pessoas, muitas delas constitucionalistas, que consideravam muito provável que o TC chumbasse a maioria das medidas que lhe tinham sido submetidas para apreciação. O primeiro-minitro, como  mentiroso compulsive, gosta de fazer discursos em que finge acreditar no que está a dizer.

Às vezes penso que teria feito melhor em dedicar-se à representação, no teatro, no cinema ou nas novelas mas, pensando no Ronald Reagan ou no Arnold Schwarzenegger, essa via poderia não o afastar do papel de primeiro-ministro, para a escolha do qual os portugueses estão verdadeiramente a precisar de melhor escrutínio.

Em comparação, o processo de escolha dos juízes do TC, se bem que passível de melhorias, tem dado muito melhores resultados.

2014-06-07

Normandia, 6 de Junho de 1944, The fallen 9000


Instalação feita numa praia da Normandia pelos artistas Jamie Wardley e Andy Moss em Setembro de 2013 para relembrar o desembarque dos aliados na Normandia em 6 de Junho de 1944, há 70 anos e um dia




Visto aqui, encaminhado por aqui.

2014-06-02

Canteiros em Tóquio


Quando se apanha um jet-lag de 8 horas como de Lisboa para Tóquio, os sonos ficam muito baralhados.

Esta foto foi tirada às 05:41 hora de Tóquio, 21:41 do dia anterior hora de Lisboa. É por isso que nesta zona central, ao pé da estação de Shinbashi, não se vê vivalma.





A seguir mostro as plantas que se viam no fundo da imagem do lado direito





e outro caminho na mesma zona




Os Ginkgos Bilobas do lado esquerdo ainda estão no seu estado "natural". A intervenção decidida dos jardineiros japoneses sobre as árvores levou-me a ver Ginkgos Bilobas de todas as formas e feitios, que só consegui reconhecer pela forma inconfundível das suas folhas. A seguir parece-me que não há ginkgos




e achei interessante o uso desta sebe larga para assegurar que os peões só atravessam nas passadeiras.

Finalizo com uma sebe com flores, muito comum no Japão: