2013-03-28

Ricardo Cruz-Filipe - 2


Fiquei surpreendido com a pequena quantidade de obras deste artista disponíveis na internet, possivelmente o volume da obra não será muito grande, dados os outros afazeres, mas mesmo assim poderia existir mais material disponível.

No site da Gulbenkian tem mais algumas imagens, que não mostro aqui, além de várias obras no Centro de Arte Moderna.

A imagem aqui ao lado é a da capa da exposição de 1973 que referi no post anterior, deve ter sido escolhida para capa por ser um bocadinho mais sensual.

É intitulada "Sem limites dentro dos limites",  tem 128 x 100cm e mostro-a a seguir com 640 pixels de largura.


2013-03-26

Ricardo Cruz-Filipe


Por motivos acidentais voltei-me a lembrar do Ricardo José Minotti da Cruz Filipe, nascido em Lisboa em 1934, um engenheiro civil que além de administrador de empresas, nomeadamente da EDP, e de ter trabalhado muito tempo na Secção Especializada para Apoio às Privatizações do Ministério das Finanças, foi meu professor de Geometria Descritiva no IST onde me recordo de ele fazer com mão livre circunferêmcias a traço-ponto a giz no quadro, circunferências essas que pareciam quase perfeitas.

Além destas actividades também se dedicou à pintura tendo feito uma exposição em Março/Abril de 1973 de que guardo um catálogo que me diz que foi na Galeria Buchholz, embora eu me parecesse que tinha sido na Gulbenkian.

Nessa exposição todas as obras foram executadas com tintas acrílicas sobre tela fotosensível, uma técnica de uso quase sistemático por este artista e a imagem que segue é uma digitalização de uma imagem dessse catálogo,



 intitulando-se "Até a luz escorrer por dentro" de 123 x 182 cm.


Gosto dos títulos usados pelo artista embora me escape quase sempre a relação entre o título e a imagem. A que segue tem posters à venda no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, fui buscá-la ao site da Gulbenkian e ampliei-a de 640 para 800 pixels (de largura)






Chama-se "Bride of stillness"




2013-03-21

Chipre


Senti-me ultrajado pelos ministros das finanças do Eurogrupo, quando tomei conhecimento da proposta insensata (nas próprias e raras palavras do nosso calado Presidente da República) e injusta que se atreveram a tentar impor aos cipriotas.

Com outro presidente esperaria que a sua magistratura de influência nos livrasse de um ministro das finanças que fez uma proposta insensata que mina a confiança dos depositantes europeus nos seus bancos.

Tem havido uma opinião quase unânime em Portugal que a proposta do Eurogrupo é péssima e tenho tido dificuldade em encontrar opiniões favoráveis a essa medida.

Parece-me que uma vez que ocorreu uma votação unânime da proposta pelos ministros das finanças de todos os países do Eurogrupo existe uma tarefa urgente de remodelar a totalidade desses ministros insensatos.

Em tempos escrevi um post em que me declarava a favor da existência do euro, alegando o meu cansaço de estar constantemente a ser roubado através da inflação. Mas se o preço a pagar pela estabilidade dos preços é o roubo discricionário dos meus depósitos, prefiro claramente a inflação que  pode ser razoavelmente mitigada através dos depósitos a prazo ou de outros instrumentos financeiros de baixo risco.

E tanto me faz que a minha futura pensão seja reduzida através da inflação com uma ou outra actualização esporádica ou que seja reduzida pela intervenção explícita do governo alegando que “não há dinheiro”.

Deixo aqui alguns links para posts sobre este assunto, começando pelo que me parece mais completo e esclarecedor, intitulado “Cyprus Bailout: Stupidity, Short-Sightedness, Something Else?” do editor de Cyprus.com a que cheguei via o 2 dedos de conversa, que tinha antes deste post apresentado as perspectivas de várias opiniões alemãs sobre o mesmo tema.

Depois um post  do Pedro Picoito,  outro do Luís M.Jorge, outro do João Pinto e Castro, outro do Francisco Seixas da Costa e outro do Paul Krugman que tem escrito mais recentemente outros posts sobre o mesmo tema.

Como ilha do Mediterrâneo Chipre tem um clima agradável e bastante turismo, donde a existência desta agradável piscina num hotel de Limassol



Também arranjaram bem esta rua para peões no centro dessa cidade



As imagens são de Outubro de 2012.


2013-03-18

Juventude


Comecei este blogue em 17/Março/2008, fez ontem 5 anos, tendo acumulado ao longo deste tempo mais de 378.000 visitas. Como já esgotei os elementos Água, Terra, Fogo e Ar o tema passa a ser livre.

Quando os meus filhos eram pequenos tinham caixas de marcadores com muitas cores e uma vez numas férias aproveitei a oportunidade para encher uma folha A4 com umas casas evocativas do Algarve. Depois fotografei a minha obra:




2013-03-17

Extinção das Ordens Religiosas e Jesuítas


A  propósito do ultimo post o Jaime Sanchiz observou num comentário que os Jesuítas foram expulsos de Portugal no ano 1759, mas também nos anos de 1834 e de 1910, perguntando se as consequências para o sistema educativo português nessas duas datas adicionais teriam sido semelhantes à primeira.

Responder a esta pergunta faz-me lembrar o Gotlib quando dizia na Rubrique-à-Brac que gostava sempre de partilhar a sua ignorância com os seus leitores, que é o que vou passar a fazer.

É comum dizer-se em Portugal que os Jesuítas foram expulsos duas vezes, pelo Marquês de Pombal e pela Primeira República, esta última fortemente anti-clerical.

Julgo que a expulsão de 1834 não costuma ser incluída porque não foi dirigida especialmente aos Jesuítas mas às ordens religiosas em geral, na sequência da vitória de D.Pedro, rei liberal, na guerra contra o seu irmão D.Miguel que pretendia o trono e governar de forma absolutista. As ordens religiosas tinham apoiado D.Miguel contra D.Pedro, de forma suficientemente forte para serem extintas quando a guerra acabou.

Mesmo assim essa extinção maciça aplicou-se directamente apenas aos frades, tendo as freiras sido deixadas dentro dos seus conventos, apenas impedidas de admitirem mais noviças, o que levou a população conventual a uma extinção por via biológica. Este tratamento especial das freiras parece-me uma medida sensata pois seria muito difícil reintegrar na sociedade um conjunto de freiras que tinham ido para ao convento mais por dificuldade em se casarem (por falta de dote ou por outros costumes sociais) do que por vocação religiosa. Quer a vocação religiosa estivesse presente ou ausente existiria uma grande dificuldade em se casarem e portanto em se integrarem na sociedade laica, pois a integração das mulheres na sociedade se fazia então predominantemente através do casamento.

Fui buscar estas informações sobre a extinção das ordens religiosas à Wikipédia mas constatei depois que vinham da Agência Ecclesia, daqui.

Entretanto fui ver a História de Portugal do Oliveira Marques mas ele dedica pouco texto a este evento da extinção das Ordens Religiosas em Portugal em 1834. Reparei numa referência a uma maciça transferência de propriedades, dos religiosos para os burgueses que as compraram nos leilões. Vi contudo numerosas referências a crises económicas e financeiras, parece ser uma constante da nossa História, viver na periferia na Europa torna o desenvolvimento mais difícil.

Quanto aos Jesuítas tenho dificuldade em compreender a obsessão que a ordem tem pela obediência, designadamente através da expressão “obedecer como um cadáver”, imagem que me repugna, os cadáveres são seres sem ânimo nem livre-arbítrio, claramente não humanos. O Lutz tem uma carta terrível do S. Inácio de Loyola que refere neste post. Claro que foi uma ordem religiosa que nasceu para combater a Reforma, donde alguma necessidade de disciplina mas estas regras parecem-me muito exageradas. Na interpretação mais benévola as regras seriam uma espécie de ”sound-bytes” da época, ou figuras de retórica. Continuando a partilhar a minha ignorância, parece-me um pecado grave uma pessoa religiosa prescindir do livre-arbítrio, que é para ela um dom de Deus. É uma tentação recorrente, e um assunto também recorrente neste blogue, de que falei em vários posts.

Neste sítio tem um resumo da presença dos “Jesuítas em Portugal”. Nele se constata que após a expulsão de 1910 os Jesuítas estabeleceram um colégio predominantemente para alunos portugueses em La Guardia, na margem espanhola do rio Minho. Conheci uma pessoa do Porto que estudou algum tempo lá em regime de internato, queixava-se do frio e de ter que estar longe da família.

Mas tenho respeito por vários Jesuítas, designadamente  pelo Matteo Ricci que viveu muito tempo na China, construindo  pontes entre as culturas chinesa e europeia, falecendo em Pequim onde está o seu túmulo e pelo Teilhard de Chardin que tentou conciliar a teologia católica com as teorias de Darwin. Com a tendência para o trabalho missionário os Jesuítas têm uma tendência acentuada para morrer longe da sua terra natal, é possivelmente o que vai acontecer ao actual papa argentino, que escolheu o nome “Francisco” em homenagem a S. Francisco de Assis. Foi também o que aconteceu a S. Francisco Xavier que tem o túmulo (suponho que de prata, com muitas janelinhas) na velha Goa, a poucos kilómetros de Pangim (ou Panaji), a capital do Estado da Índia e de que deixo aqui a imagem (slide de 1990, um bocado desfocado, posteriormente digitalizado) com que finalizo este post.






2013-03-11

Matemática em Portugal



Recentemente reparei neste livro do Jorge Buescu que constatei, depois de comprar, já ter sido publicado em Maio de 2012.

O livro defende a tese muito razoável que nunca tivemos matemáticos de grande projecção internacional porque na maior parte da história de Portugal o ensino da Matemática foi muito débil ou mesmo inexistente.

Um dos temas que traz mais leitores a este blogue é o analfabetismo em Portugal que, a par da inumeracia, refiro em 3 posts e esse analfabetismo gigantesco, verdadeira vergonha nacional que nos coloca na posição de excepção europeia, é mais uma manifestação do desprezo atávico da maioria da nossa sociedade pelo estudo e pelo conhecimento, sugerindo que não seria de esperar grandes avanços científicos neste jardim à beira-mar plantado. A presença do ministro Relvas no actual governo é uma materialização do Portugal profundo, que despreza o esforço do estudo valorizando em alternativa a “chico-espertice”.

Da leitura do livro retive de memória o seguinte (com uma ou outra reverificação):

- Enquanto no centro da Europa os algarismos trazidos pelos árabes começaram a ser usados a partir do século X, em Portugal continuou-se a usar a numeração romana até ao século XV, altura em que é publicado o primeiro manual de Aritmética, de Gaspar Nicolas em 1519, contendo as tabuadas e um algoritmo para multiplicar dois números equivalente ao que é hoje ensinado nas nossas escolas. Parece-me provável que estes métodos já fossem conhecidos em Portugal por esse tempo mas é impressionante que fosse um conhecimento tão pouco disseminado que só em 1519 apareça o primeiro manual que chegou aos nossos dias.

- Pedro Nunes (1502-1578) foi um matemático notável no seu tempo mas foi uma excepção, que não resultou da existência de um conjunto apreciável de matemáticos bons, nem deixou escola.

- O que mais me surpreendeu no livro foi o seu capitulo 5 intitulado “A catástrofe pombalina na Educação”. Neste capítulo o autor avança a tese que a expulsão dos Jesuítas de Portugal em 1759 assumiu as proporções de uma verdadeira catástrofe, ao suprimir de um dia para o outro o único ensino público existente em Portugal deixando 20000 alunos do ensino secundário, que frequentavam os colégios dos Jesuítas, sem professores. Assim, a magnífica reforma realizada pelo Marquês no ensino universitário sofreu do problema da falta de alunos. Este número de 20000 alunos no ensino secundário apenas voltaria a ser atingido no princípio do século XX, isto é, 150 anos depois. Citando Henrique Leitão: “As correntes historiográficas dominantes durante o século XIX e quase todo o século XX olharam para estes acontecimentos de forma pouco crítica, tomando como base das suas análises os textos da própria propaganda pombalina...”. Senti-me defraudado nesta omissão do que me ensinaram de História no liceu e do que (não) tenho ouvido falar sobre este tema. E faz-me pensar na frase “custe o que custar”, que poderia ter sido utilizada pelo Marquês na necessidade imperiosa que ele sentiu de expulsar os Jesuítas, ou na frase “manter o rumo” (de Wolfgang Schäuble, implicitamente dizendo também “sem hesitar ao ver o que está a acontecer”), frases tão caras ao actual primeiro-ministro de Portugal.

- O autor alega ainda que a purga feita em 1947 de uma vintena de professores universitários, entre eles alguns matemáticos, alegadamente simpatizantes de ideias comunistas, se bem que lamentável apenas teve consequências importantes no ensino da Matemática em Portugal por o número de professores universitários dessa área ser tão reduzido.

- Na parte final do século XX houve progressos muito significativos na investigação Matemática em Portugal.

Mais outro livro da Fundação Manuel dos Santos cuja leitura se recomenda para pessoas interessadas no tema.

2013-03-09

O painel de azulejos de João Abel Manta


Com a morte de Eduardo Nery apareceram artigos no jornal Público nos dias 2 e 5 de Março e agora na revista actual do jornal Expresso no dia 9 de Março de 2013, atribuindo erradamente a autoria do grande painel de azulejos da Avenida Calouste Gulbenkian a este artista.

Na realidade o painel é do artista João Abel Manta, mais conhecido pelos magníficos e ácidos cartoons dos tempos do fim da ditadura e do PREC.

Diz na Wikipédia que o painel foi concebido em 1970 e aplicado em 1982.

A imagem do painel em questão que apresento a seguir é daqui, tendo-a reenquadrado ligeiramente e diminuído o número de pixels:




O painel vê-se muito bem em movimento de dentro dos carros que passam mas aproveitei esta foto da Wikimedia Commons do Manuel V. Botelho para fazer dois reenquadramentos em que se vê esta parte de tons predominantemente verdes do painel mais em detalhe







Existem outras zonas do painel em que predominam azuis, castanhos, vermelhos e amarelos mas essas ficarão, talvez, para outro post.

2013-03-04

Eduardo Nery 1936-2013


Faleceu o artista plástico Eduardo Nery no passado sábado de doença súbita.

Há muito tempo que eu apreciava as obras deste artista que, com as suas intervenções nos espaços públicos de Lisboa, nos deixou uma cidade muito mais bonita do que se não tivesse por cá trabalhado.

Escolhi como primeira imagem uma parede de azulejo de uma agência bancária em Coimbra, por incluir as cores do arco-iris, pela organização geometricamente disciplinada do espaço e pela alegria que a obra me transmite no seu conjunto, é uma composição que me transmite energia e que me deixa bem disposto, como tantas outras das obras deste artista. Fui buscar esta imagem aqui.



Fui muito ajudado na selecção das imagens a mostrar neste post pela minha ignorância da vastíssima obra deste artista, a próxima selecção é dos azulejos cores do arco-iris no fundo da Avenida Infante Santo em Lisboa, que fui buscar ao mesmo sítio da imagem anterior



Na procura de imagens através do Google Images apareceu-me esta fotografia duma zona um pouco mais acima deste painel de azulejos que fui buscar aqui




Ainda do mesmo fotógrafo (jaime.silva) seleccionei esta foto de um painel de mosaicos cor-de-laranja, instalado algumas dezenas de metros mais acima na mesma Avenida Infante Santo que é feito com mosaicos de apenas duas tonalidades de laranja, que fui buscar aqui:




Depois seleccionei esta obra policromática, mais uma vez muito "solar", que fui buscar aqui:



Depois, para incluir algo que não estivesse directamente já num site da internet, fui ao Google Earth e seleccionei a praça do Município de Lisboa, vista duma altura de 130 metros:



Alguns dos detalhes da calçada estão neste projecto que fui buscar aqui:



regressando à policromia geométrica deste sítio:




O trabalho de Eduardo Nery também é figurativo, os viadutos em frente ao Jardim Zoológico e no fim do Campo Grande tem desenhos muito interessantes. Mas seleccionei uma das várias figuras de visita mostradas nas paredes da estação de metro do Campo Grande e que foram tratadas com uma ironia brincalhona que muito me agradou. Perdi o endereço desta imagem.



E para finalizar mostro o quadro que Eduardo Nery fez para o café "A Brasileira" no largo do Chiado, uma obra onírica com o arco-iris e templos gregos flutuando no céu, que bem podia ser uma hipótese de Paraíso: