2010-06-26

O sentido da vida

Nunca fui grande entusiasta de futebol, durante algum tempo limitei-me a ver os jogos do Europeu e do Mundial, mas cada vez tenho mais dificuldade em suportar a ansiedade durante os 90 minutos de um jogo como condição necessária para os muito breves momentos de alegria (quando ocorrem).

Quando disse isto a um indiano, quando ele referiu que neste Mundial estava a começar a achar interessante o jogo de futebol, que não é muito popular na Índia, ele disse-me que achava os 90 minutos uma grande qualidade do futebol. No cricket também há essa ansiedade só que se estende, por exemplo, das 9 da manhã às 5 da tarde!

Oscilo actualmente entre a via do Nirvana (nem sequer ver o jogo) ou, numa versão mais ocidental, ver os últimos 20 minutos ou meia-hora. Gasto menos tempo, poupo na ansiedade e limito a observação a quando as equipas estão eventualmente a dar o tudo por tudo.

Gosto também nestas ocasiões de citar esta passagem do Umberto Eco:

"...pedi várias vezes ao meu pai, equilibrado mas constante adepto, que me levasse consigo a ver o desafio. E um dia, quando observava com distanciação os insensatos movimentos lá em baixo no campo, senti como se o sol alto do meio-dia envolvesse com uma luz enregeladora homens e coisas, e como se diante dos meus olhos se desenrolasse uma representação cósmica sem sentido. Era aquilo que mais tarde, lendo Ottiero Ottieri descobriria como o sentimento da "irrealidade quotidiana", mas, então, tinha treze anos e traduzi a meu modo: pela primeira vez duvidei da existência de Deus e considerei que o mundo era uma ficção sem objectivo. ..."

em O MUNDIAL E AS SUAS POMPAS, escrito por Umberto Eco em 1978, inserido no livro "Viagem na Irrealidade Quotidiana".




Quando se colocam dúvidas sobre o sentido da vida, existe sempre a via do artesão, que mantém as mãos e a mente ocupadas em actividades construtivas.

Neste caso uns pequenos origamis, um sampan e um pássaro, que fiz com as duas metades de uma saqueta de açúcar e que fotografei sobre os meus dedos, para dar uma ideia do tamanho dos objectos, seguindo a ideia dos arquitectos gregos, de considerarem o homem como medida de todas as coisas.




Depois fotografei o sampan com um pouco mais de detalhe.


2 comentários:

Susana Bês disse...

Incríveis origamis! E do outro lado, isto é, na dimensão do tempo, dos terríveis 90 minutos, talvez ainda se possa encontrar a uma medida humana. Mas que dizer do baseball (do beisebol?), em que os jogos nem sequer têm limite de tempo e podem durar um dia inteiro?

Anónimo disse...

Um dia inteiro?...hum..
Milhares de origamis?