2010-03-05

Artificial e Natural

A escultura de Manolo Valdez inspirada na Dama de Elche que referi em post anterior estava colocada no passeio em frente à Caixa Forum em Madrid. Na entrada desse Caixa Forum, uma antiga subestação de distribuição de electricidade convertida numa galeria de arte patrocinada pelo banco La Caixa, contempla-se este deslumbrante jardim vertical




projectado por Patrick Blanc, referido também aqui e aqui.

Esta foto não é “contemporânea” da escultura acima referida do Manolo Valdez, foi tirada em Mar/2009, quando decorria uma exposição de esculturas do Rodin, de que este burguês de Calais (um dos seis) era um exemplo.

Pensei que este jardim vertical seria uma boa ilustração da dificuldade em estabelecer uma separação entre o que é artificial e o que é natural.

Existe esta distanciação, que julgo mais típica do Ocidente, entre o que é "humano" e o que é "natural", como se os seres humanos não fossem parte integrante da Natureza.

Vi uma vez um filme sobre a natureza, na Géode de la Villette, mostrando uma castor a fazer uma barragem, alterando para sempre (era o que dizia no filme) o sistema ecológico pré-existente. No final reparei que entre vários patrocinadores do filme se encontrava a EDF.

Já disse que trabalho no sector eléctrico e julgo também ter dito que simpatizo com barragens, pela energia renovável que proporcionam e pelos lagos que criam em paisagens por vezes excessivamente secas.

Escapa-me completamente o tipo de pensamento que considera boa a existência de configurações de terreno que originam a formação de lagos e que considera má a construção humana que cria configurações funcionalmente equivalentes que originam a formação de lagos artificiais.

Em português existe algum embasbacamento perante os processos "naturais", dizer que se resolveu qualquer coisa através de um "artifício" tem um tom algo pejorativo, como se apenas fossem boas as soluções "naturais", aquelas que dispensam a arte dos seres humanos.

Este jardim vertical parece-me uma versão melhorada do que, já ia dizer, consegue a natureza sem a intervenção humana. Na realidade este jardim é também uma obra da natureza, com uma contribuição da parte da natureza que tem, entre outras coisas, consciência de si.

Mas já é tempo de finalizar estas considerações e mostrar a parede na sua quase totalidade:


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