2008-12-13

As oportunidades perdidas

No meio da criação de um blog é impressionante o número de caminhos por onde os posts se podem desenvolver e as dúvidas sobre qual será o melhor caminho a tomar.

Vezes demais recebo aqueles conjuntos de fotos "Portugal no seu melhor" focando muitas vezes os padrões baixos em que ainda vivemos, outras vezes dando excessivo relevo a uma situação infeliz mas de muito rara ocorrência.

Mas não resisti a fotografar esta cena na Índia, no mesmo complexo do Qutub Minar, onde decorriam uma obras de pequena manutenção. Havia uns homens com umas pás e umas picaretas e umas mulheres que os ajudavam, transportando minúsculas quantidades de detritos dentro de umas vasilhas que levavam à cabeça, movendo-se com uma lentidão majestosa.




Em Portugal haveria certamente pelo menos um carrinho de mão para melhorar o desempenho desta tarefa.

É impressionante a falta de capital existente nestas sociedades mas certamente mais grave é a ausência de percepção de oportunidades de melhoria, com um pequeno esforço este trabalho poderia ser feito de forma bastante mais eficaz.

Também me ocorrem maus pensamentos: em sociedades muito estratificadas como a portuguesa e mais ainda a indiana, as lideranças preocupam-se pouco com a melhoria da produtividade dos trabalhadores menos qualificados, como se acha que eles irão sempre produzir pouco, nem valem um esforço de melhoria.

4 comentários:

Helena Araújo disse...

Será melhoria da produtividade, ou melhoria das condições de trabalho?
Admito que num país com tanta população pobre e sem emprego, um trabalhador ainda valha menos do que valia um escravo das Américas (este era uma "coisa" com preço, enquanto que o trabalhador, se for pouco produtivo ou se morrer de fome, pode ser trocado gratuitamente por outro - vale ainda menos que uma "coisa").
Ou seja: a melhoria da produtividade não é importante quando o salário é baixíssimo, e a melhoria das condições de trabalho é uma questão que só se coloca a partir da perspectiva do respeito pela dignidade humana.
Há ainda tanto para mudar no nosso mundo!

jj.amarante disse...

Helena, neste caso as condições físicas de execução do trabalho, carregar pequenas quantidades de entulho num alguidar à cabeça não pareciam más, não exigiam grande esforço. Já quanto à parte remuneratória, seria certamente insuficiente, indiciando um salário baixíssimo. E com salários baixíssimos ninguém se esforça para melhorar a produtividade, o trabalhador porque não está motivado, o gestor porque tem pouco estímulo para procurar melhorias.

DL disse...

Sem arriscar muito, diria que um alguidar daqueles não deve pesar menos de 12 a 15 quilos. Já é uma carga considerável.

jj.amarante disse...

DL, é capaz de ser uma carga apreciável mas se a transportassem num carrinho de mão, daqueles banais que havia por cá, poderiam fazer menos esforço ou transportar mais de cada vez.