2008-07-21

Preconceito

Da única vez que visitei a Tailândia, num “stop-over” de um fim-de-semana, no regresso de Macau, fiquei impressionado com a actividade febril de Bangkok. A Tailândia tem problemas enormes mas tem-se desenvolvido muito e pode-se orgulhar de ser o único país do Sudoeste Asiático que nunca foi colonizado pelas potências ocidentais, embora tenha tido as suas guerras e invasões com os vizinhos.

Numa visita a um mercado de frutas e legumes fiquei surpreendido quando vi esta mulher a ler um jornal, confortavelmente sentada no chão, no meio dos despojos de uma manhã de actividade.



Continuo a gostar muito desta imagem pela sensação que transmite de concentração na leitura e de alheamento do que rodeia a leitora mas continuo a achar que há também aqui um preconceito meu.

Continuo na dúvida se o que me levou a fazer a fotografia foi o preconceito que as tailandesas não liam jornais, se tinha esse preconceito em relação às vendedoras dos mercados portuguesas ou se era uma mistura dos dois.

Acho natural ter o preconceito em 1990 que as vendedoras do mercado fossem analfabetas. Em 1970 a taxa de analfabetismo em Portugal atingia uns vergonhosos 26% e em 1991 ainda era 11%, tendo naturalmente maior incidência em profissões requerendo menos habilitações.

Segundo o “United Nations Development Program Report 2007/2008” citado aqui na Wikipedia, a nossa taxa de alfabetização está agora nos 93,8% (70º em 177 países) enquanto a da Tailândia (77º) vai em 92,6%. Estamos atrás de todos os países europeus e de muitos não europeus.

Essa foi a mais pesada herança do Estado Novo, um povo com uma taxa enorme de analfabetos e a convicção da classe dominante que se se ensinasse toda a gente a ler deixaria de haver gente para trabalhar no campo e mulheres para servir!

Continuando o passeio pelos alfabetos asiáticos deixo aqui agora uma imagem do da Tailândia, uma frase do rei Rama V que aparece numa nota:

(Education in our nation is of the first importance/therefore I shall diligently improve it. /Thus remarked Rama V)

(Thai: การเล่าเรียนในบ้านเมืองเรานี้จะเป็นข้อสำคันที่หนึ่ง ซึ่งฉันจะอุตส่าห์จัดขึ้นให้เจริญจงไค้ พระราชดำรัสในรัชกาลที่ ๕).

Gosto muito destas letras tailandesas que acabam frequentemente em bolinhas. Notar a ausência de espaços em branco que dizem não ser dramático por as palavras serem a maior parte das vezes monossilábicas.

Quando eu comecei a trabalhar com computadores havia sobretudo o código EBCDIC da IBM, tendo-se depois generalizado o código ASCII (American Standard Code for Information Interchange) mas nessa altura os acentos, ou sinais diacríticos para usar uma palavra fina, eram de muito difícil acesso. Agora, com o UNICODE, até o alfabeto Tai é inserido facilmente neste texto!


3 comentários:

Anónimo disse...

Preyado J.J.,

A Estatistica inglesa IPPR (Institue for Public Policy Research)do ano 2003 mostra uma "School Performance" of portuguese chidren no valor de -32,3 %.
Acho ser muito dificil "culpar" os governos portugueses, uma vez que estes alunos vivem na Inglaterra.
Como deviamos interpretar estes dados e aconselhar aos politicos que tipo de ensino ?
(link via meunome/homepage)
Ralf

jj.amarante disse...

Caro Ralf
Pelas outras estatísticas que mostra no seu post constata-se que a população portuguesa em questão é das que tem um menor salário. Os alunos vivem em Inglaterra mas os pais vieram de Portugal tendo tido provavelmente uma educação muito mais reduzida do que os pais ingleses. À primeira vista eu sugeriria a aplicação das medidas que se aplicam quando os pais dos alunos tiveram uma educação deficiente.

WOLKENGEDANKEN disse...

Todos estamos cheios de preconceitos sobre tudo o que noa conhecemos, mas alguns tentam informar-se e outros nao