2008-07-08

Alfabetos na Ásia

Numa primeira aproximação aos ideogramas chineses, fica-se com a noção que há séculos que os ideogramas foram normalizados, existindo exames a nível nacional em todo o império, que serviam para seleccionar uma burocracia baseada no mérito. Dada a dimensão da China e a inexistência, na época da normalização dos ideogramas, quer de rádio quer de televisão, os esforços de uniformização da língua falada não foram tão bem sucedidos como os da escrita.

A língua falada mais comum é o mandarim mas o cantonês é também importante, nomeadamente fora da China pelo papel que há muito tempo a cidade de Cantão assumiu nos contactos com o exterior, devido sobretudo à proximidade de Macau e de Hong-Kong. Uma pessoa de Cantão e outra de Pequim podem não se entender a falar mas compreendem-se quando escrevem, o que é uma situação que não existe na Europa.

A evolução mais comum da escrita das linguagens vai da utilização de símbolos relacionados com ideias (donde o termo de ideograma) para a representação de fonemas da língua falada. No caso chinês, o grande sucesso na definição e normalização dos ideogramas acabou por tornar muito difícil a evolução subsequente para uma representação fonética. Tem havido tentativas (a fixação em caracteres latinos do mandarim chama-se pinyin) de fixar em caracteres latinos a língua chinesa mas com um sucesso moderado.

Suponho que a utilização dos ideogramas acaba por influenciar a forma chinesa de pensar e deve ser muito custoso realizar o afastamento dum pilar fundamental da cultura chinesa.

Na primeira viagem a Macau fiz uma visita a Cantão, na República Popular da China, de onde trouxe esta nota de 1 Yuan, da qual mostro a parte frontal.



O ideograma para o conceito de "um" é inesperadamente complexo, nas línguas ocidentais o nome da unidade costuma ser muito breve. È consolador verificar a adopção universal dos algarismos, mesmo em culturas tão diferentes.

Os algarismos são ideogramas pois traduzem ideias e não fonemas. Outro género de ideogramas que se têm propagado pelo mundo são os pequenos ícones das aplicações informáticas. Vivemos num mundo em que os ideogramas não são só os dos chineses.

A imagem do reverso da nota foi para mim uma surpresa e talvez tenha sido o motivo para a guardar: constata-se que enquanto na face principal apenas constam ideogramas chineses e algarismos árabes, no reverso aparecem, além de caracteres do alfabeto latino, conjuntos de símbolos em mais três alfabetos e um conjunto de letras latinas de outra língua!



Na altura fiquei com a ideia que, sob este ponto de vista, a República Popular da China tinha uma complexidade muito maior do que a que aparecia a um ocidental mais distraído. Na Europa existem o alfabeto latino, o cirílico e o grego mas existem grandes parecenças entre eles e tomamos contacto com as letras gregas no estudo da Matemática pelo que não nos são completamente desconhecidas.

Da complexidade do desenho dos 3 conjuntos de símbolos pode-se deduzir que se tratam de representações de fonemas pois, pela menor dimensão do conjunto a representar, não é necessária uma elaboração tão complexa como quando se representam ideias. Uma delas parecia-me árabe, as outras não me eram familiares.

Na visita que agora fiz à Wikipédia, antes de escrever este post, completei o que em 1990 tinha abandonado pois na época não era fácil apurar as linguagens a que correspondiam os diferentes alfabetos. Na entrada “Renminbi” da Wikipédia constata-se com relativa facilidade que a escrita mais à esquerda nesta ampliação do reverso da nota de 1 yuan




se trata do “Clear script” do Mongol enquanto a da direita deve ser Tibetano, na imagem seguinte



a escrita do lado esquerdo será Uyghurche, uma língua da família das línguas turcas, falada no leste da China, e do lado direito trata-se de Zhuang, referida aqui como uma língua Tai falada no sul da China que foi possível escrever apenas com caracteres latinos.

Todas estas linguagens vivem na periferia do território chinês, no Sul, no Oeste e no Norte.

A variedade de alfabetos na Ásia surpreendeu-me, apercebi-me nessa altura que além destes, por exemplo na Índia, as notas têm impressos 10 alfabetos e agora, nesta pequena investigação na Wikipédia, voltei a surpreender-me com tanta variedade de linguagens e de símbolos.

3 comentários:

João Pinto e Castro disse...

Há aí uma confusão qualquer. O caracter chinês para "um" é uma simples linha horizontal.

jj.amarante disse...

O ideograma da nota tem mesmo o significado "um", sendo afinal o equivalente à nossa representação "por extenso" do número, com redundância que chegue no seu complicado desenho, para evitar mal-entendidos, pelo que eu não me deveria admirar do ideograma ser tão complicado. Tens razão no que dizes de o "um" ser uma simples linha horizontal. Neste sítio fala sobre este tema: "http://en.wikipedia.org/wiki/Chinese_numerals"

João Pinto e Castro disse...

O meu chinês ainda dá para isso. Já agora, duas linhas horizontais é "dois" e três linhas horizontais é "três". A partir daí torna-se mais difícil.